
A tradução é um processo complexo e antigo que remonta, em sua vertente oral, aos primeiros contatos entre grupos humanos linguisticamente distintos e, em sua forma documental, aos primórdios da própria escrita. Traduzir é um ato circunscrito por uma ciência cujo objeto é o procedimento de comunicar informações de uma língua em outra. A tradução como ciência está sempre evoluindo, tendo incorporado entendimentos provenientes da linguística, semântica e pragmática. Em sua trajetória, a tradução evolui até alcançar seu espaço como uma ciência reconhecida.
A Ciência da Tradução
Assim como ocorre em outras áreas do conhecimento, a tradução, enquanto ciência, é acompanhada por um arcabouço teórico que elucida os mecanismos do processo tradutório, possibilitando o desenvolvimento de entendimentos e procedimentos aplicáveis à tradução e à interpretação. Mais recentemente, esses conhecimentos, aliados a saberes de campos como a linguística e a pragmática, têm contribuído significativamente para o avanço da Inteligência Artificial.
As inteligências artificiais operam com base em redes sintáticas e semânticas, expressando seus resultados em línguas diferentes a partir de um único modelo de interrelações. Ou seja, as IAs não criam respostas com base em diferentes línguas, tentando atender o idioma presente no estímulo, o chamado prompt. Ao contrário, a IA recorre ao seu modelo linguístico interno para posteriormente traduzir sua resposta para a língua em questão.
Esse caminho remete diretamente aos conceitos de estrutura profunda e de superfície, introduzidos por Chomsky, proponente da Gramática Gerativa Transformacional na década de 1950 e que se juntam a modelos posteriores na caminhada ao entendimento linguístico que sustenta os LLM (Large Language Models) por trás da Inteligência Artificial. Fica clara, portanto, a importância dos linguístas e cientistas da tradução para que chegássemos onde chegamos e para que possamos progredir a partir daqui. [Para entender mais sobre inteligência artificial e tradução, leia nosso artigo sobre o assunto.]
Entender que a tradução no contexto pós-moderno é uma ciência e que sua aplicação segue procedimentos é fundamental para que se desconstrua a percepção de que basta o conhecimento de duas línguas para que se possa traduzir. Esse entendimento é crucial para que se preserve um mundo seguro, não apenas em um sentido jurídico, como bem sabem os tradutores de documentação, mas também em um sentido existencial. Informações mal traduzidas vêm com sua dose de riscos e precisamos compreender isso antes que o uso indiscriminado de tecnologias cooptadas por especuladores causem danos irreversíveis à sociedade.
Modalidades de Tradução: Tradução Literal vs. Interpretação
Traduzir, portanto, exige procedimentos e tais procedimentos existem ao longo de um eixo de complexidade. Diferentes situações exigem do tradutor diferentes procedimentos. De uma forma bastante simplificada, podemos partir de duas estratégias principais: a tradução literal e a tradução que interpreta o conteúdo.
A Tradução Literal é frequentemente compreendida como uma forma inferior de tradução. A realidade é que a tradução literal pode ser bastante útil, especialmente em contextos que demandem precisão. Definir tradução literal é, por si só, um desafio, mas podemos pensar em termos de uma tradução entre os equivalentes prototípicos de um termo e, consequentemente, uma equivalência de “palavra por palavra”. (Essa, aliás, sendo a lógica por trás das instruções de tradução de documentação, “palavra por palavra”, de certos países.)
Na realidade, mesmo uma tradução literal, por mais literal que seja, dificilmente resultará em uma tradução palavra por palavra porque o tradutor é repositório de conhecimento e experiência individuais que interferem nesse processo. É inegável, no entanto, que a tradução de documentação é marcada por uma tendência literalizante, que busca não uma tradução absolutamente literal, mas a tradução mais literal possível que possa conduzir à correta interpretação do texto. [Leia mais sobre isso em nossa biblioteca.]
Outra estratégia de tradução é a Interpretação, que remete, de forma simplificada, a uma transposição de uma língua para outra daquilo que foi compreendido pelo tradutor. Aqui a ênfase recai sobre ideias e não palavras. Essa modalidade de tradução emerge quando uma tradução literal é incapaz de comunicar o sentido do original. Por outro lado, esse tipo de tradução é filtrado pela compreensão do próprio tradutor.
Na realidade do dia a dia, tradutores fazem seu trabalho, adotando procedimentos ao longo de um espectro entre literalidade e interpretação e isso nos conduz a uma terceira abordagem: a teoria da equivalência dinâmica.
Teoria da Equivalência Dinâmica
A teoria da equivalência dinâmica busca maximizar a qualidade da tradução por meio de uma modulação de procedimentos. Dessa forma, mantém-se fidelidade ao original ao mesmo tempo em que se consideram adaptações culturais. Deve-se, ao traduzir um livro, converter exemplos extraídos do beisebol para equivalentes extraídos do futebol? Sim e não. Essa escolha depende de inúmeros fatores e é exatamente aí que entra a necessidade de tradutores especializados em tradução, conhecedores dos procedimentos disponíveis e entendedores de quando devem utilizá-los. A Teoria da Equivalência Dinâmica, portanto, vê a tradução como um processo fluido, envolvendo negociação de significados para alcançar o melhor resultado.
Terminologia e Glossários em Tradução
Na área de tradução, a terminologia é, logicamente, essencial. Ela garante que as informações sejam precisas e consistentes. Por isso, tradutores profissionais se dedicam a construir e utilizar glossários que asseguram resultados consistentes.
Construção de Glossários
Montar glossários é um trabalho complexo. Envolve pesquisar e escolher termos relevantes, e definir suas equivalências entre pares de línguas. Isso exige conhecimento profundo dos idiomas envolvidos e dos procedimentos advindos tanto da tradulogia como da linguística aplicada à tradução. Assim, os glossários são ferramentas precisas e úteis para os tradutores.
O Papel da Terminologia em Especialidades
Na medicina e engenharia, por exemplo, a terminologia é vital. As informações precisam ser claras e extremamente precisas. Nesse sentido, entender-se a tradução como ciência e integrar conhecimentos advindos da linguística aplicada à tradução é essencial para que exista confiança no material traduzido. Ou seja, em contextos complexos, precisamos da certeza de as traduções são feitas de acordo com protocolos e não simplesmente produzidas sem critério por qualquer um que se julgue capaz. Exatamente por isso, é natural que surgissem ferramentas especializadas para o refinamento da difícil tarefa de traduzir.
As Ferramentas Tecnológicas na Tradução
A ciência da tradução não é imune aos avanços tecnológicos. Se hoje estamos convivendo com soluções propostas por IA em todas as áreas, a realidade é que antes de Inteligência Artificial os tradutores profissionais já contavam com seu arsenal. Entre tradutores, há décadas são utilizados softwares de tradução assistida e programas identificadores de inconsistências.
Ferramentas CAT – Software de Tradução Assistida
Os softwares de tradução assistida, conhecidos como ferramentas CAT, utilizam algoritmos para analisar textos e sugerir traduções a partir de pesquisa e memórias. As memórias de tradução, por conseguinte, são muito importantes. Elas ajudam os tradutores a encontrar traduções anteriores, economizando tempo e esforço. Além disso, as memórias permitem um elevadíssimo grau de consistência linguística. Um exemplo de sua importância foi seu papel na uniformização terminológica da documentação da União Europeia, que mantém uma página onde suas memórias estão permanentemente disponíveis.
A Responsabilidade do Tradutor
A busca constante por melhores tecnologias é o maior testemunho da importância do Trabalho dos Tradutores e de como esses profissionais compreendem a responsabilidade do que fazem. Tradutores especializados devem garantir que suas traduções sejam precisas, consistentes e éticas. Esses profissionais estão sempre atualizados em relação aos avanços da tradução automática, também chamada de tradução de máquina. Além disso, também monitoram atentamente os avanços em Inteligência Artificial para que compreendam com clareza os limites de tecnologias que trazem impactos profundos e riscos ainda não totalmente compreendidos.
A Formação do Tradutor Cientista
A formação do tradutor especializado em sua própria área é, portanto, crucial para que se transmitam informações precisas e confiáveis. Para tornar-se um tradutor competente, não é bastante o domínio de duas línguas e familiaridade com alguma área do conhecimento. Vivemos em um contexto que demanda níveis de precisão cada vez mais altos e que, no caso do tradutor, tornam sua formação cada vez mais essencial. Nossa posição não é mera opinião. Um estudo recente demonstrou a importância da formação para a qualidade das traduções científicas. Acreditamos que o mesmo seja válido para todas as outras áreas do conhecimento, ainda que não tenhamos dados específicos. A realidade do segmento de tradução é evidente quando se comparam o trabalho de um tradutor profissional devidamente treinado com o trabalho de indivíduos sem essa formação.
Estudos Científicos Recentes em Tradução
A tradução e seus procedimentos continuam sendo estudados profundamente. Até mesmo estudos pertinentes à neurociência e à criação de línguas artificiais têm trazido contribuições para essa área do conhecimento. Em nosso escritório, acreditamos na importância de uma abordagem científica. A tradução não deve ser compreendida apenas como a transposição de ideias de uma língua para outra por um indivíduo que se julgue capaz da tarefa. Existem procedimentos que devemos aplicar nesse percurso.
Nosso escritório foi fundado e é conduzido por um tradutor com formação acadêmica e mentalidade científica que sabe que uma boa tradução exige conhecimento e talento. No entanto, a tradução precisa e confiável também exige técnica.
O Futuro da Tradução como Ciência
Hoje, usamos inteligência artificial e aprendizado de máquina para melhorar a tradução. Mas isso não resolve todas as questões. A colaboração entre tradutores, linguistas e especialistas em outras áreas também é importante e traz soluções inovadoras para diferentes desafios.
Muitos creem que o advento da inteligência artificial pode representar o fim do tradutor humano. A realidade de quem conhece e testa essas tecnologias, no entanto, aponta para uma relevância cada vez maior de profissionais altamente qualificados e capazes de identificar problemas no material fornecido pela Inteligência Artificial. O tradutor de hoje é certamente diferente do tradutor medieval e o mesmo podemos esperar o mesmo em relação ao tradutor do futuro. Suas tecnologias vão mudar assim como boa parte de seus procedimentos, mas ele estará lá, desempenhando seu papel silencioso de assegurar que as mensagens cheguem a seus destinatários de forma correta e precisa.
As tecnologias e os modelos de IA certamente têm grande potencial acelerador, mas o discernimento de uma mente humana treinada ainda será necessário por muito tempo, especialmente quando as situações envolverem compromissos e responsabilidades expressivas. Ou seja, a tradução feita por humanos ainda é essencial.
FAQ
O que é a tradução como ciência?
A tradução como ciência é o estudo do procedimento de tradução. A tradutologia analisa aspectos linguísticos, cognitivos, tecnológicos e culturais. Isso ajuda a entender como informações são comunicadas de uma língua para outra e permite a existência de protocolos para que o processo seja eficiente e eficaz.
Por que a terminologia é importante em tradução?
A terminologia garante precisão e consistência. Assim, o conceito está intimamente ligado à questão da equivalência entre termos de idiomas diferentes. Glossários são essenciais como ferramentas de organização do conhecimento terminológico do tradutor.
Quais são as principais ferramentas tecnológicas utilizadas na tradução?
Ferramentas importantes incluem software de tradução assistida, software de diagnóstico de inconsistências de tradução e glossários. A inteligência artificial também tem seu espaço em tradução, mas permanecerá sob supervisão de especialistas humanos em setores onde a qualidade da informação é crucial.
Quais habilidades e formação são necessárias para se tornar um tradutor?
Para se tornar tradutor, é necessário estudo dos idiomas de interesse do tradutor e também buscar conhecimento dos aspectos científicos e procedimentais do processo de tradução para que o resultado da intervenção do tradutor seja tecnicamente correto. Buscar formação nas áreas da tradutologia e linguística são essenciais para que o tradutor alcance seu potencial.
Quais são as tendências e inovações recentes na ciência da tradução?
Tendências incluem o uso da inteligência artificial e o aprofundamento do entendimento dos processos linguísticos e neurolinguísticos envolvidos.
Saiba mais lendo sobre a Tradução nas Ciências, nas Ciências Humanas, na Tecnologia, na Política e Governo, na Administração, no Direito, na Vida Cotidiana e para o Funcionamento do Mundo.
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